Entre os avanços da medicina através dos séculos, a introdução do uso de robôs em cirurgias foi um grande passo em direção a procedimentos mais eficazes e menos invasivos. Revertendo a lógica das cirurgias com grandes cortes que perdurou por anos, os robôs manipulados pelos médicos garantem avanços no procedimento cirúrgico. Porém, o fato de tal tecnologia estar disponível não justifica sua utilização para tudo. Para entender melhor o quadro atual e os avanços que foram conquistados, o Jornal da USP no Ar conversou com o médico Paulo Pêgo-Fernandes, diretor da Unidade de Cirurgia Torácica do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Ele conta que a história da cirurgia na medicina começou há 150 anos, com o início da utilização de anestesia. Por mais de um século, se manteve um conceito que dizia “grandes cirurgiões, grandes incisões” pelo fato de o corte grande garantir uma maior segurança. Este pensamento vigeu até cerca de 30 anos atrás, quando começaram a ser priorizados fatores como menos invasão e dores, melhor recuperação e rápido retorno às atividades.
O primeiro passo nessa direção foi a utilização do vídeo nas cirurgias. “Hoje, várias cirurgias só se fazem por vídeo – por exemplo, as de vesícula, feitas por laparoscopia. Os robôs são um conceito mais recente e incorporam as mesmas qualidades do vídeo, mas com algumas diferenças.” O médico exemplifica que, enquanto o vídeo possui visão bidimensional, os robôs têm a tridimensionalidade a seu favor – o que facilita procedimentos mais complexos.
“Outra facilidade é o modo de usar: o médico, através de um console, consegue, com o movimento de suas mãos, controlar as pinças do robô. Essas pinças permitem movimentos finos e em pequenos espaços, possibilitando vários procedimentos através de um mesmo corte pequeno”, complementa Pêgo-Fernandes.
No entanto, ele ressalta, o fato de ter a tecnologia não significa ser ela melhor para tudo. Essa ânsia em assimilar de forma generalizada as tecnologias novas não faz sentido. Por exemplo, os exames de ressonância são ótimos e trouxeram grandes vantagens à medicina, porém, em muitos casos, um ultrassom – exame mais simples – é mais útil.
“O robô é uma boa tecnologia e veio para ajudar, mas não resolve tudo. Por exemplo, o uso de robôs em cirurgias cardíacas não demonstrou trazer benefícios na grande maioria das vezes. Já em cirurgias no tórax, como em metástase de câncer pulmonar, o uso de robôs possibilita uma dissecção mais anatômica e mais completa para retirada dos gânglios”, explica.
De toda forma, existem inúmeras decisões e procedimentos feitos pelos médicos, que estão distantes de serem incorporados pelos robôs. O próprio fato de a máquina estar reproduzindo os movimentos feitos por um cirurgião já torna o termo “robô”, de certa forma, impreciso, conta Pêgo-Fernandes. Da mesma forma que os pilotos de avião estão assumindo cada vez mais a função de supervisão, deve haver um progresso para tornar o processo cirúrgico cada vez mais autônomo e seguro.